quinta-feira, 4 de abril de 2013

JUIZ INDICIA FILHA DO REI DA ESPANHA POR TRÁFICO DE INFLUÊNCIA


ZERO HORA 04 de abril de 2013 | N° 17392

ESCÂNDALO NA ESPANHA

Cristina de Borbón será investigada em processo que envolve seu marido


Quando a infanta Cristina se casou com Iñaki Urdangarín, jogador de handebol da seleção espanhola, a monarquia era a instituição melhor avaliada no país. Agora, em franco declínio de popularidade, o Palácio da Zarzuela sofre um abalo inédito: a caçula do rei Juan Carlos foi indiciada em um caso de corrupção e desvio de dinheiro público que desde 2011 envolve o marido atleta.

AJustiça espanhola acusou ontem a infanta Cristina Federica de Borbón y Grecia, 47 anos, por tráfico de influência. Cristina irá depor no dia 27 no tribunal de Palma de Mallorca, responsável pelo caso. Segundo o juiz José Carlos Castro, existem indícios de que Cristina tinha conhecimento das atividades ilegais do marido.

Urdangarin e seu ex-sócio Diego Torres são suspeitos do desvio de 6 milhões de euros (R$ 15,6 milhões) de euros de verbas públicas através do Instituto Nóos, uma entidade de mecenato presidida pelo marido da princesa entre 2004 e 2006.

Em sua último depoimento, o genro de Juan Carlos tentou afastar a infanta e a Casa Real do caso e assegurou que nunca aprovou os negócios realizados pela entidade.

A acusação contra Cristina foi feita após a defesa de Torres ter apresentado vários e-mails supostamente trocados com a infanta e outras pessoas do entorno da família real. Cristina e o ex-jogador de handebol se conheceram em uma festa das Olimpíadas de Atlanta, em 1996, e têm quatro filhos.

O indiciamento é o capítulo mais grave do escândalo que explodiu no fim de 2011 e representou um duro golpe na popularidade da monarquia espanhola e do rei Juan Carlos. O caso obriga o monarca a buscar uma nova estratégia para isolar o foco dos problemas, que até então era Urdangarin. No Natal de 2011, o rei assegurou que a “justiça é igual para todos”.

Naquele momento, Urdangarin foi afastado das atividades oficiais da família real após a acusação. O Palácio Real disse em dezembro do ano passado que nunca pediu à infanta que se divorcie ou renuncie a seus direitos dinásticos. Cristina também se afastou das atividades oficiais e já deixou de receber a dotação de gastos de representação que recebem outros membros da família real.

MADRI


OLHAR GLOBAL | LUIZ ANTÔNIO ARAUJO

Um exemplo sem fronteiras


Merece reflexão a decisão da Justiça espanhola de indiciar a filha caçula do rei Juan Carlos, Cristina de Borbón y Grecia, no mais rumoroso escândalo de corrupção da história do país. Não que a monarquia dos Borbón seja exemplar em matéria de conduta. No ano passado, o rei teve de pedir desculpas ao país depois de vir a público sua participação num safári em Botsuana ao mesmo tempo que seus compatriotas são devorados pela crise econômica. O inquérito judicial a respeito das atividades empresariais do genro do monarca, Iñaki Urdangarin, ex-estrela da seleção nacional de handebol, se arrasta desde 2011. O caso tem uma dimensão comparável à do escândalo do mensalão, por envolver a monarquia, instituição que avalizou a transição da ditadura de 36 anos do generalíssimo Francisco Franco para um regime democrático constitucional.

O caso espanhol é digno de atenção, antes de mais nada, pelo fato de o magistrado não ter se intimidado pela proximidade entre malfeitores e realeza. Ao justificar a decisão de indiciar a infanta (título que designa filhos do rei que não são herdeiros presumidos do trono), o juiz José Carlos Castro, de uma corte de Palma de Mallorca, disse que não convocá-la a se explicar no tribunal poderia “desacreditar a máxima segundo a qual a justiça é a mesma para todos nós”. Ao agir assim, o magistrado deu uma demonstração cabal de independência. São abundantes os exemplos de países nos quais juízes são condescendentes diante de desmandos cometidos por poderosos de calibre dramaticamente inferior ao de Cristina.

Na Espanha ou na América Latina, democracia deve pressupor primado da lei. A ideia de que alguém possa se considerar acima das obrigações legais é mais nefasta para o Estado de direito do que uma centena de cabeças coroadas. Há, finalmente, outro aspecto em que o episódio espanhol é instrutivo: a imprensa não deixou em nenhum momento de mostrar cada detalhe do escândalo, por mais escabroso que seja, permitindo que o público se mantenha a par do caso.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Na Espanha há juízes e rei!

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