terça-feira, 6 de setembro de 2011

JUSTIÇA AJUDA VÍTIMA DA VIOLÊNCIA CONSEGUIR LEITO EM HOSPITAL


BUROCRACIA NA SAÚDE.Luta por vaga para garota em UTI. Familiares de adolescente baleada em Viamão recorreram à Justiça para conseguir transferência para unidade mais equipada -FRANCISCO AMORIM, 06/09/2011

Vítima de uma bala perdida em Viamão, a adolescente Luana de Matos, 17 anos, lutava ontem à noite pela vida no Hospital São Francisco, na Capital, depois de passar dias internada no Instituto de Cardiologia Hospital de Viamão. Familiares, amigos e a direção do hospital do município da Região Metropolitana tiveram de percorrer um caminho burocrático até conseguir atendimento médico especializado em uma unidade de Porto Alegre.

Abala que feriu Luana atingiu o fígado e o pulmão. Baleada no dia 18 quando acompanhava uma amiga a um minimercado no Residencial Figueiras, em Viamão, a estudante já contava os dias para a alta médica quando teve uma regressão clínica na quarta-feira passada. Um derrame no pericárdio (nome técnico para o acúmulo de líquido no entorno do coração) levou o hospital a pleitear a transferência para uma UTI de maior complexidade junto as centrais de leito de Porto Alegre e do Estado, enquanto os pais da adolescente buscavam a Justiça para conseguir a mudança de hospital com rapidez.

– Somos UTI tipo 2, ela precisa de um atendimento de uma UTI tipo 3, onde exista cirurgião torácico. Fizemos uma pulsão para retirada de líquido na quarta, mas voltou a acumular líquido. Como ela está entubada, segue em sedação profunda – relatava à tarde o diretor técnico do hospital, o médico Alexandre Britto.

Pais estavam preocupados com piora de saúde da filha

Desesperados com a piora no quadro de saúde da adolescente, os pais procuraram ajuda no Judiciário em Viamão e em Porto Alegre, na quinta-feira à noite. Só conseguiram encaminhar documentos, com apoio do Ministério Público, na sexta-feira. A ordem da juíza Liliane Ortiz para transferência da adolescente veio no domingo. A magistrada determinou que Luana fosse levada para uma UTI de maior complexidade em rede pública ou privada, com compra de leito se necessário, em 24 horas.

– Eles não têm aparelhos aqui para tratá-la, falta estrutura para cuidar do caso dela. Estamos com medo – desabafou o pai da adolescente Luana de Matos, João Carlos de Matos.

Adolescente chegou à Capital às 21h30min

Por volta das 19h de ontem, chegou a informação de que um leito seria disponibilizado para Luana no Hospital São Francisco, da Santa Casa. Por volta das 21h30min, a ambulância da transferência havia concluído o trajeto de Viamão à Capital.

– Ela estava se recuperando bem, agora está entre a vida e a morte – lamentou o pai.

Conforme o diretor do Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial (DAHA) da Secretaria Estadual da Saúde, órgão responsável pela Central de Regulação de Leitos do Estado, Marcos Antônio de Oliveira Lobato, a secretaria recebeu a notificação judicial na tarde de ontem, momento em que ainda não havia leito vago nesse tipo de UTI na Capital.

– Não deixamos de fazer nada em todos esses dias que ela permaneceu em nossa UTI, mas agora ela precisa de atendimento em uma UTI mais complexa – frisou Alexandre Britto, do Hospital de Viamão.

Vítima de uma disputa entre traficantes
Luana de Matos foi vítima inocente de uma disputa entre traficantes pelo controle de bocas de fumo no Residencial Figueiras, em Viamão. A adolescente e uma amiga, também baleada na perna, foram feridas por tiros de revólver calibre 38 por volta das 21h do dia 18. Segundo a mãe de Luan, ela estava em casa quando pediu para ir ao minimercado:

– Deixei porque não era tarde ainda. Meia hora depois um amigo dela veio correndo me dizer que ela tinha sido baleada. Ela estava no local errado na hora errada – desabafa a mãe Elisabete Rocha, técnica de enfermagem aposentada.

A polícia ainda não identificou os autores do disparos, mas a investigação aponta para uma briga entre criminosos pela hegemonia do tráfico.

– Pelo que apuramos até agora, os criminosos passaram atirando na rua para intimidar quem estava por lá, ferindo as meninas que conversavam – afirma o delegado Cleiton de Freitas, titular da 1ª DP de Viamão.

“Se nada for feito, ela pode não sobreviver”. Elisabete Rocha, mãe da adolescente

Desesperada, a mãe recorreu à Justiça para conseguir a transferência da filha para a Capital. Só conseguiu cinco dias depois. Confira entrevista dada a Zero Hora ontem:

Zero Hora – Como foram os 19 dias de internação?

Elisabete Rocha – Ela estava bem melhor. Depois de ficar entubada após a cirurgia que fez ao entrar, estava consciente, falando. Estava fazendo planos para quando saísse. De repente começou a ficar ruim.

ZH – Quando se percebeu a necessidade de transferi-la?

Elisabete – O médico que cuida dela disse que ela precisaria na quarta-feira ir para uma UTI maior, depois que ela passou por uma pulsão para retirar líquido do tórax e não melhorou. Eles começaram a pedir vaga, e nós procuramos a Justiça.

ZH – Não bastasse ter a filha vítima de uma bala perdida a senhora enfrenta uma peregrinação para buscar melhor atendimento...

Elisabete – Estou desesperada. Ela foi com uma amiga no mercado e veio parar aqui no hospital. Então precisa de atendimento especial e não consegue. Se nada for feito, ela pode não sobreviver.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É O FIM. A luta por leito para a garota vítima de bala perdida, mostra a negligência do Estado potencializada nas causas e nos efeitos. O Estado deixa de prestar segurança ao povo e ainda impede as vítimas desta insegurança a recuperação da saúde abalada pela negligência deste mesmo Estado. Estamos vivendo momentos dantescos.

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