Ministra do STF nega pedido para suspender processo de Demóstenes
Defesa do senador tentou barrar investigação do Senado até
que Justiça se posicione sobre legalidade das provas; para Carmen Lúcia,
no entanto, assunto cabe ao Legislativo
Felipe Recondo, de O Estado de S.Paulo, 15 de junho de 2012 | 10h 39
BRASÍLIA - A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF)
Carmen Lúcia negou nesta sexta-feira, 15, o pedido de liminar feito pelo
senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) para que seu processo no
Conselho de Ética fosse suspenso. Demóstenes queria que o Conselho de
Ética aguardasse o julgamento da Justiça Federal da validade das escutas
telefônicas que embasam as investigações da Polícia Federal e do
Ministério Público na Operação Monte Carlo.
No entendimento da defesa, domente depois de saber se as provas são
legais, o Conselho daria seguimento ao processo de cassação de
Demóstenes por quebra de decoro parlamentar, por suas ligações com o
contraventor Carlinhos Cachoeira, cuja atuação está sendo investigada
também em comissão mista parlamentar de inquérito.
Conforme a assessoria do STF, a ministra afirma na decisão, ainda não
liberada, que esse é um assunto interno do Legislativo e que não
caberia ao tribunal interferir.
A defesa sustenta que o senador não teve o direito de produzir provas
técnicas relacionadas às gravações de conversas telefônicas. Segundo os
advogados, houve cerceamento de defesa.
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Desembargador considera escutas da PF ilegais
Decisão do TRF1 ameaça Operação Monte Carlo e deixa
Cachoeira a um passo de ser solto; mulher do contraventor saiu radiante
do julgamento
VANNILDO MENDES / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo, 13/06/2012
O desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional
Federal da Primeira Região (TRF1), de Brasília, considerou ilegais as
escutas telefônicas da operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que
desmontou o grupo de Carlinhos Cachoeira. Para o magistrado, as provas
decorrentes desses grampos são nulas. O voto dado ontem deixou Cachoeira
a um passo de ser solto e coloca a operação da PF em risco.
O desembargador Cândido Vieira pediu vista e o julgamento do habeas
corpus que pede a nulidade do processo foi adiado. Movido pela defesa em
30 de maio passado, o habeas corpus, do qual Tourinho Neto é relator,
está sendo julgado pela 3.ª turma do TRF1, que tem três membros.
Basta mais um voto para que os grampos da Monte Carlo sejam nulos e
Cachoeira, solto. A nulidade das provas obtidas com a interceptação
quebrará a espinha dorsal da investigação e facilitará a defesa dos 81
denunciados pelo Ministério Público por envolvimento no esquema.
Desencadeada em 29 de fevereiro, a Operação Monte Carlo investigou
por um ano a rede de corrupção, tráfico de influência, lavagem de
dinheiro e exploração de jogos ilegais em Goiás e no Distrito Federal. O
esquema, comandado por Cachoeira, segundo a PF e o Ministério Público,
tinha a participação de policiais, inclusive delegados das Polícias
Federal e Civil, além de empresários, autoridades e políticos.
A mulher do contraventor, Andressa Mendonça, saiu radiante do
julgamento, mas não quis falar. O julgamento será retomado na próxima
semana. Segundo Tourinho Neto, o delegado encarregado da investigação,
Matheus Mella Rodrigues, cometeu um erro ao se basear em denúncias
anônimas e em uma notícia de jornal para fundamentar o pedido das
interceptações.
Ele ironizou o argumento do delegado, de que era perigoso investigar
in loco as casas de jogos da quadrilha porque elas eram protegidas por
policiais corruptos. "Será que a PF não sabe enfrentar bandidos, não tem
inteligência, tecnologia, nem câmeras de precisão para investigar à
distância? A PF não sabe fazer campana nem monitoramento?".
O procurador regional da República Eugênio Pacelli deu parecer pela
validade dos grampos. O advogado do contraventor, Márcio Thomaz Bastos,
não tem dúvida de que a nulidade será o destino da Monte Carlo, a seu
ver uma operação cercada de vícios nas fases policial e judicial.
"Acredito que, confirmado o voto do ministro Tourinho - firme e
consistente -, se a gente tiver mais um voto, imagino que essa
investigação esteja completamente esvaziada, o que não significa que não
se possa fazer outra, dentro das trilhas da legalidade", disse.
O sargento aposentado Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, apontado
como espião do esquema, recrutador de policiais e operador dos negócios
do esquema foi solto em 4 de junho. Além de Cachoeira, seis outros
membros do grupo permanecem presos.