quinta-feira, 1 de março de 2012

SUPREMO LIBERA INVESTIGAÇÃO DO CNJ NO IR E FOLHA DE PAGAMENTOS DE JUÍZES


CNJ poderá investigar juízes com base em IR e folha de pagamentos. Ministro Luiz Fux impede que sejam usados dados do Coaf na investigação. CAROLINA BRÍGIDO. O GLOBO, 29/02/12 - 20h58

BRASÍLIA - O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para prosseguir com parte das investigações sobre a evolução patrimonial de juízes e servidores do Judiciário. O órgão poderá verificar a declaração de Imposto de Renda apresentada aos tribunais e também a folha de pagamentos. No entanto, o Conselho segue impedido de analisar dados contidos no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre movimentações financeiras acima da média.

A investigação foi interrompida em dezembro, por liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski a pedido de associações de juízes. A decisão de Fux, divulgada nesta quarta-feira foi tomada a partir de um pedido feito no dia anterior pela corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon. No ofício, ela argumentou que a tarefa rotineira do órgão de analisar declarações de renda e salários de juízes e servidores estava comprometida por conta da liminar de dezembro.

“Em face do teor do seu ofício acima declinado, poderá (a corregedora) prosseguir nas ‘inspeções que eram rotineiras antes da concessão da liminar’, reservada ao plenário do STF a apreciação da juridicidade da praxe noticiada”, escreveu Fux. Segundo expectativa do ministro, em abril o plenário do tribunal julgará se mantém ou não embargada a parte da investigação baseada em dados do Coaf.

Na terça-feira, a Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) enviou ao STF ofício em que levanta suspeita de que a ministra Eliana Calmon sonegou informações ao Supremo. A entidade afirma que, na véspera de mandar explicações sobre o caso ao tribunal, a corregedoria retirou do processo dados encaminhados pelo Coaf em um CD Rom. Agora, a AMB quer saber o que tinha na mídia que não poderia ser enviado ao Supremo. Fux determinou que a corregedoria explicasse o episódio.

O conteúdo do CD foi anexado a outras sindicâncias feitas pela corregedoria que não foram contestadas pela AMB. São seis sindicâncias patrimoniais que tramitam em sigilo contra magistrados. Quatro delas são contra desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul. A suspeita da entidade é de que a corregedoria teve sim acesso a dados sigilosos de magistrados na investigação sobre a evolução patrimonial de juízes, ao contrário do que alegou em sua defesa.

Segundo um assessor de Eliana Calmon, o CD foi anexado à investigação contestada pela AMB por um mero engano provocado pela similaridade dos números dos processos. Embora tenha vindo do Coaf, o documento não teria qualquer relação com a apuração que estava embargada. O integrante da corregedoria explicou que, ao contrário do que insinua a entidade de juízes, o CD não contém dados sigilosos de milhares de juízes e servidores. Além da apuração em questão, a corregedoria conduz 17 investigações patrimoniais contra juízes específicos. Essas apurações tramitam em sigilo.

O novo pedido da AMB é apenas mais um capítulo na polêmica investigação do CNJ com base em dados do Coaf. Esta semana, Fux, determinou que todas as partes envolvidas fossem intimadas para dar explicações no processo. Fux quer que até o sindicado dos servidores do Judiciário se pronuncie, tendo em vista que também há dados sobre a movimentação financeira de funcionários no levantamento do Coaf. A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg) também terá voz, porque dados de funcionários de cartórios também estariam no documento do Coaf.

Fux também determinou que o Banco Central e o Coaf esclarecessem se houve o envio de dados sigilosos ao CNJ. O assessor da corregedoria do CNJ confirmou que o órgão recebeu dados restritos do Banco Central para instruir a investigação sobre o patrimônio de juízes e servidores.

No pedido feito nesta terça, as entidades querem ainda que a corregedora-nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, preste novas informações sobre a apuração. Em janeiro deste ano, ela respondeu ao pedido de dados e afirmou que não houve quebra de sigilo e nem identificação de pessoas no material enviado pelo Coaf.

"O acesso a esses dados pelos órgãos de fiscalização, de maneira reservada e sem qualquer exposição do declarante, não representa qualquer quebra de sigilo", afirmou Eliana Calmon no documento enviado ao STF em janeiro.

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