CORREIO DO POVO 16/09/2012
Rogério Mendelski
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Márlon Jacinto Reis é um juiz Eleitoral do
Maranhão, mas já se transformou numa celebridade (no bom sentido)
nacional pela sua obstinação em fazer valer a Lei da Ficha Limpa. Ele
diz que "o brasileiro vota às cegas", mas confia que tal situação possa
se inverter "quando a sociedade simplesmente perceber que se condena ao
empobrecimento e à falta de saúde e educação sempre que entrega o poder
político a pessoas destituídas de compromisso ético com o bem comum". A
Lei da Ficha Limpa pelos ataques sofridos por parte da classe política
brasileira é a melhor prova de sua eficácia já que ela atingiu o seu
objetivo ao impedir a candidatura de pessoas lamentavelmente envolvidas
com a prática da corrupção sob as mais diversas formas. Para o juiz
maranhense, a posição do STFdando constitucionalidade à lei mostrou que o
velho Direito Eleitoral da tolerância com a corrupção começou a ser
superado. A Lei da Ficha Limpa "não tem falhas, mas aqueles que a
interpretam talvez as tenham. Não é possível encontrar na lei uma só
letra que estimule a candidatura de pessoas ímprobas. Então se alguém
interpreta a lei e chega à conclusão contrária, a falha não está na
norma". Fiscalizar a atividade dos políticos deveria ser uma parceria
saudável da sociedade civil com o Ministério Público, entidade que goza
de grande confiança por parte do juiz Marlon Reis: "O Ministério Público
exerce um trabalho imprescindível de fiscalização das eleições. É uma
instituição democrática da mais alta relevância, sem a qual as nossas
eleições correriam graves riscos. Todos devem levar aos promotores e aos
procuradores eleitorais as informações que tiverem sobre abusos
cometidos durante o processo eletivo. Mas a sociedade civil organizada
também exerce um papel fundamental. As entidades e as redes empenhadas
em combater a corrupção são importantes no controle social das
eleições". Marlon Reis foi um dos mentores da Lei da Ficha Limpa e quer
mais mudanças na legislação eleitoral brasileira, pois "o que temos aí é
uma fraude". "As doações são clandestinas e sem limite. As listas
partidárias são incompreensíveis pela população: vota-se em um, elege-se
outro. E os partidos são muitas vezes tratados como feudos." A reforma
do sistema legal eleitoral do país é inadiável porque política não é
lugar para "esperteza"; é lugar para a inteligência coletiva. Assimpensa
um juiz Eleitoral com a ficha limpa.
Questão de caráter"Precisamos
fortalecer a experiência partidária no Brasil. Os partidos políticos
são fundamentais para qualquer democracia desenvolvida. O tamanho do
partido não é realmente importante. O que importa é se ele funciona
realmente como um espaço de atuação programática e ideológica. Numa
democracia complexa, podemos, sim, ter pequenos partidos que representam
ideias de grupos que reclamam reconhecimento. O problema não é o
tamanho, mas o ''caráter'' do partido."
O crítico"Sou um
crítico do sistema eleitoral, por isso defendo a sua alteração de forma
profunda. Só uma reforma política protagonizada pela própria sociedade
pode sufocar os muitos engodos ainda presentes em nossa legislação
eleitoral."
Recursos eleitoraisMárlon quer acabar com a
artimanha que consiste nos repasses de grandes somas - por parte de
empresas, em conluio com partidos políticos, a título de doação de
campanha - para candidatos escolhidos à mão. Na hora da formalização das
chapas e das coligações, no entanto, o próprio partido passa a constar
como doador nos registros do TSE - o fundo partidário, assim, seria a
fonte de custeio a justificar a benesse, mascarando a real origem do
recurso.
O vácuo legalPara Márlon Reis há um vácuo na
legislação eleitoral que permite uma relação por vezes promíscua entre
empresas e partidos. É essa relação que, mais tarde, vai cobrar a fatura
por meio de projetos e contratos dos patrocinadores de determinadas
candidaturas. A quebra de sigilo bancário nesses casos, diz Márlon,
resolveria o impasse. E, assim, quem quisesse poderia fazer depois
cruzamento de dados para ver se determinado doador se beneficiou de
alguma ação parlamentar encomendada, por meio do candidato ajudado.
A esperançaMagistrados
como Márlon Reis e Joaquim Barbosa formam ao lado da parte decente
deste imenso país a resistência ética disposta a forçar o Brasil a ser
uma nação civilizada que não merece conviver com a corrupção e com a
impunidade.
rogerio@radioguaiba.com.br
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